domingo, 15 de setembro de 2019

CLEÓPATRA VII – A MAIS FAMOSA (Completa)

CLEÓPATRA VII – A MAIS FAMOSA
(parte 01)
BREVE APRESENTAÇÃO
Na data de 10 de agosto do ano 30 a.C. foi encontrado o corpo de Cleópatra, a última mulher a ser faraó do Egito, no mausoléu que ela havia mandado construir para si mesma em Alexandria. Cleópatra havia tirado a própria vida aos 39 anos.
É bastante provável que nunca saibamos exatamente o que levou ao suicídio, considerado a última proeza de sua existência. Apesar disso, sabemos muitos detalhes de sua apaixonada e tumultuosa vida antes que tomasse esta última decisão fatal que talvez fosse inevitável.
Desde a Antiguidade, Cleópatra, a Grande, foi motivo de reflexão para muitas gerações. Quem foi essa mulher enigmática? Quais habilidades e desígnios permitiram que ela exercesse influência sobre os homens mais poderosos do seu tempo e alterasse o curso da História?
Para poder compreender algumas destas questões e dar resposta a algumas incógnitas precisamos retroceder a tempos passados e analisar as raízes e o contexto do qual surgiu essa surpreendente e enigmática soberana.
QUEM ERA E DE ONDE VEIO?
Cleópatra VII, filha de Ptolomeu Auletes, nasceu no ano de 69 a.C. Em sua árvore genealógica apareciam importantes governantes, cuja reputação havia sido manchada pelos crimes que cometeram.
Seus antepassados haviam praticado os vícios e as perversões mais inimagináveis, que combinavam com seus consideráveis talentos e paixões, com sua crueldade e com uma sede de poder que lhes permitiram ostentar a coroa do Egito por três séculos!
Os historiadores não puderam estabelecer a verdadeira identidade da mãe de Cleópatra. Especulou-se sobre o fato de que tenha sido a segunda esposa de Ptolomeu XII Auletes, com a qual este teria casado depois que Cleópatra V deu à luz a Berenice IV e a Cleópatra VI.
No entanto, nada se sabe sobre o destino de Cleópatra V, já que ela simplesmente desapareceu da vida pública. Ao que parece, também os filhos de Auletes, Ptolomeu XIII e Ptolomeu XIV, nasceram desta esposa desconhecida, e seriam, portanto, irmãos de sangue de Cleópatra VII. Muito provavelmente, também a irmã mais nova, Arsinoe, era sua irmã de sangue. 
Imagem 01: Registro de Cleópatra VII que se encontra no Museu do Louvre, na França. Imagem registrada no site Scala Archives sob o código DA10163 com o título "Egyptian civilization - Ptolemaic period - Bas relief fragment portraying Cleopatra (3rd-1st century b.C.)". Créditos da fotografia: DeAgostini Picture Library/Scala, Florence.
Afirmou-se que Cleópatra VII tinha um porte e aspecto majestosos (IMAGEM 01), além de um jeito apaixonado e fogoso e uma grande inteligência.

Através das imagens que aparecem cunhadas em várias moedas (IMAGEM 02) da época, deduz-se que não possuía uma beleza de estilo clássico, já que seus traços eram muito acentuados e grandes.
Imagem 02: Moeda que se encontra no Museu Britânico de Londres, na Inglaterra. Imagem registrada no site Scala Archives sob o código BM02438 com o título "Silver denarius of Cleopatra VII and Mark Antony". Créditos da fotografia: The Trustees of the British Museum c/o Scala, Florence.
De todo modo, a história descreve-a como uma mulher consideravelmente atraente fisicamente, talvez devido a seu olhar penetrante e hipnotizador, a seu domínio da arte da sedução e ao uso perspicaz que fazia de suas artimanhas de mulher.
Sua grande inteligência, combinada à sua astúcia e intuição, transformaram-na em uma figura especialmente destacada.
Cleópatra era uma jovem muito culta. Os fortes antecedentes gregos, incluindo o idioma e a cultura do país nativo de sua família, tinham sido preservados e transmitidos aos membros da dinastia dos Ptolomeus, apesar de governarem como egípcios e serem bons conhecedores da cultura de seu país de adoção.
Cleópatra era poliglota e foi o primeiro membro da dinastia ptolomaica a aprender o idioma de seus súditos egípcios. Também estudou literatura e astronomia, e interessava-se até pela medicina, pelas ciências e pela matemática.
Seu instinto e ambição somados a extraordinários dotes intelectuais, permitiram que se destacasse entre seu povo.
A BELEZA NÃO É TUDO

No entanto, que aparência física tinha Cleópatra? É difícil dizer. Os filmes modernos reservaram o papel de Cleópatra às atrizes mais belas da ocasião (IMAGEM 03).
Imagem 03: Atrizes que interpretaram Cleópatra no cinema: Vivien Leigh (1945) e Elizabeth Taylor (1963). Fonte da imagem: "Vivien Leigh vs Elizabeth Taylor (Cleopatra)", no YouTube, pelo link <https://www.youtube.com/watch?v=1I-ldBlktfU>. Endereço acessado em 20 de abril de 2018 às 12h51m.
Isto parece corroborar a lenda de que a rainha do Egito era uma mulher espetacularmente bela, capaz de pôr de joelhos diante dela os homens mais poderosos de sua época.
Mas, a suposta beleza de seu físico foi o que deu a Cleópatra todo o poder que teve?
Quando Otávio tomou o Egito, ordenou que fossem destruídas todas as representações da ex-rainha e, para todos os fins práticos, sua ordem foi cumprida.
Felizmente, um cidadão rico de Alexandria conseguiu subornar os funcionários e conservou uma parte de sua coleção. Assim foram preservadas duas estátuas (que agora estão num museu da Califórnia), algumas moedas que foram encontradas depois e um baixo-relevo na parede do templo de Dendera em Qena, que nos dão uma ideia aproximada da aparência de Cleópatra.
Nele, a soberana egípcia aparece dando o peito a Cesarion, e representada obviamente como uma mulher bonita.
As moedas e as estátuas, no entanto, mostram uma mulher gorducha, com o rosto austero, dentes maltratados e feições vulgares.
CLEÓPATRA VII – A MAIS FAMOSA (parte 02)
As duas imagens sobreviventes, das quais já escrevemos no capítulo anterior, fizeram com que muitos historiadores afirmassem que a suposta beleza de Cleópatra era uma lenda sem fundamento e que, na verdade, a rainha egípcia era uma mulher pouco graciosa, talvez um tanto gorda, e, provavelmente, de não mais de um metro e meio de altura.
Daí a considerá-la "feia" bastava apenas um passo, passo que alguns historiadores britânicos não hesitaram em dar. Então, se não foi a aparência falsamente considerada bonita, o que foi que supostamente fez enlouquecerem de desejo os grandes líderes daquela época?
Em primeiro lugar, é preciso levar em conta que a beleza é um conceito subjetivo que muda com o tempo.
Está bem documentado que na época de Cleópatra as mulheres gorduchas eram consideradas mulheres ideais, e que um rosto era considerado bonito se a cútis era lisa e os olhos, límpidos. Portanto, talvez seja possível dizer que Cleópatra era atraente.
No entanto, é mais provável, e mais cortês em relação às mulheres em geral, que a moral da história de Cleópatra seja que a beleza é algo ilusório. Embora nos textos históricos raramente fosse mencionada a sua aparência (IMAGEM 04), não se pode negar que tinha um grande encanto, astúcia e inteligência.
Foram estes atributos, e talvez seu domínio das estratégias da sedução, o que lhe permitiu controlar e manipular os homens mais poderosos de sua época. Cleópatra era perita em assuntos políticos e militares, e tornou-se uma conselheira indispensável para César e para Marco Antônio. 
Imagem 04: Registro de Cleópatra VII que se encontra no Museu Hermitage, na Rússia. Imagem registrada no site Scala Archives sob código DA12921 com título "Statue of Cleopatra VII  horn of  plenty (51-30 b.C.). Detail.". Créditos da fotografia: DeAgostini Picture Library/Scala, Florence.
Além disso, nesses dois casos, assegurou-se de que a primeira impressão que tivessem dela fosse espetacular e os seduziu com modos teatrais, após uma longa e ponderada preparação.
Não se tratou de encontros casuais nos quais o homem caísse de amor à primeira vista, mais sim abordagem meticulosamente planejada para alcançar os seus objetivos.
Cleópatra sabia exatamente o que queria e como alcançá-lo. Embora a beleza física não tivesse por que ser um impedimento, o certo é que para Cleópatra ela não fazia falta.
FECHAM-SE AS CORTINAS PARA CLEÓPATRA (parte 03)
A lenda popular diz que Cleópatra morreu pela picada de uma víbora. No entanto, quando analisamos essa crença vemos que é bastante improvável.
Existe uma víbora venenosa, Vipera Aspis, que é uma serpente muito agressiva, vive nas montanhas da Europa e sua picada é responsável por muitas mortes por ano.
No entanto, é uma serpente lenta que quando morde nem sempre provoca a morte, pois seu veneno demora um tempo para fazer efeito.
No entanto, talvez a razão mais importante para não acreditar no que diz a lenda quanto à culpa pela morte da rainha seja a de que essa não é uma das espécies de serpentes com habitat no Egito; nem agora e nem no passado.  

Imagem 05: Cobra egípcia ou Naja Haje. Teria sido esta espécie a picar a famosa rainha egípcia Cleópatra, matando-a quase que instantaneamente. Imagem via Wikimedia Commons pelo link <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:L14cobra.jpg>, acessado em 20 de abril de 2018 às 22h10m.


Portanto, se Cleópatra se matou fazendo-se picar por uma serpente, é possível afirmar quase com certeza que a serpente não era uma víbora.
É provável que o termo "víbora" tenha sido utilizado ao longo dos séculos como uma espécie de termo genérico para dizer "serpente". Se presumirmos que a arma suicida foi algum tipo de serpente, a candidata mais lógica seria a naja egípcia.
Cleópatra preparou meticulosamente durante longo tempo o método perfeito para suicidar-se, desejosa de encontrar um meio que significasse uma morte rápida e relativamente indolor, uma morte que não a desfigurasse de nenhuma maneira.
A naja egípcia (IMAGEM 05), que geralmente se alimenta de pequenos roedores, era (e ainda é), uma serpente muito comum em regiões habitadas do Egito. A picada de naja costuma matar rapidamente e de um modo razoavelmente benevolente.
A história reúne vários testemunhos de suicídios de nobres egípcios recorrendo às najas e em algumas épocas elas foram utilizadas para eliminar prisioneiros políticos condenados à morte.
A morte por ataque de cobra era considerada como um modo honrado de morrer e havia quem acreditasse que concedia a imortalidade.
É bem possível que houvesse uma naja escondida entre os figos que foram levados a Cleópatra num cesto. Uma vez em sua posse, a rainha deve ter assustado ou irritado o animal para que a mordesse.
Não foi encontrado rastro algum da serpente, exceto algumas marcas na areia de fora do mausoléu, embora o braço de Cleópatra apresentasse pequenas feridas incisivas.
Não está nada claro, no entanto, que essa fosse a causa da morte. Outra teoria afirma que as criadas da rainha tinham um veneno poderoso escondido dentro de alfinetes para o cabelo, que utilizaram para inocular o veneno. Não se sabe qual o destino das criadas. 
CLEÓPATRA VII – A MAIS FAMOSA: “ENCERRAMENTO DA SÉRIE”
Muito se discute sobre a aparência de Cleopatra, se era bela, feia, branca, negra. E se era verde, laranja ou tinha sardas fluorescentes pelo corpo? Importa? Antes de qualquer coisa, é necessário pensar na rainha além da cor. As discussões atuais giram muito em torno de “Cleópatra negra, Cleópatra branca, Cleópatra no cinema” e suas realizações como governante acabam por cair em segundo plano. Inteligente, ela fez ações que eram inimagináveis para mulheres de sua época. Foi pioneira, aprendeu o idioma da terra governada e, engenhosamente, aliou-se a homens poderosos.
Como era fisicamente? Talvez a pergunta fique eternamente sem resposta... Os vencidos a taxaram como uma mulher feia, baixinha e nariguda. Já as imagens do Egito apresentam uma mulher diferente. Quem está certo? Se por muitos séculos os faraós se “embelezavam” nas estátuas e murais, podemos crer que a fonte egípcia é mais confiável à primeira vista? Ou ficamos com “aquela pulga atrás da orelha” e acreditamos nos romanos?
A mulher mais poderosa de uma civilização será um enigma por muitos séculos. Quiçá milênios. Cléo vai estar na boca do povo, não deixando nunca seu nome e legados morrerem. Antes de qualquer coisa, vamos apreciar suas representações cinematográficas, por exemplo, com mais abertura: Por qual motivo o estúdio a representou nesses moldes, com essas características e essa cor? Elizabeth Taylor é a Cleópatra VII certa e todas as outras são erradas?
Lyz é a errada frente a visão histórica? Seu figurino está certo e o cenário errado? Aconteceu uma salada dinástica no filme com mistura de personagens? ATENÇÃO! São FILMES! Se quisermos fidelidade a história que assistamos a um DOCUMENTÁRIO (e se bobear, não tem 100% de fidelidade nem ali). Mas vocês se perguntam: E quem pensa diferente disso está errado? Não. Ainda vivemos em uma democracia e cada cidadão é livre. Só sugiro que tenhamos uma mente mais aberta nesse assunto delicado. Voltemos a Cleópatra.
Seu legado sobrevive em numerosas obras de arte, tanto antigas quanto modernas. A historiografia romana e a poesia latina produziram uma visão geralmente polêmica e negativa da rainha que permeava a literatura medieval e renascentista. Nas artes visuais, representações antigas de Cleópatra incluem a cunhagem romana e ptolemaica, estátuas, bustos, relevos, vidros e esculturas de camafeus, e pinturas.
Foi tema de muitas obras na arte renascentista e barroca, que incluiu esculturas, pinturas, poesia, dramas teatrais, como Antônio e Cleópatra, de William Shakespeare, e óperas como Giulio Cesare in Egitto, de Georg Friedrich Händel. Nos tempos modernos, tem aparecido tanto nas artes aplicadas e belas artes, na sátira burlesca, em produções cinematográficas e em imagens de marcas para produtos comerciais, tornando-se ícone da cultura popular da egiptomania.

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