CLEÓPATRA VII – A MAIS FAMOSA
(parte 01)
BREVE APRESENTAÇÃO
Na data de 10 de agosto do
ano 30
a .C. foi encontrado o corpo de
Cleópatra, a última mulher a ser faraó do Egito, no mausoléu que ela havia
mandado construir para si mesma em
Alexandria. Cleópatra havia
tirado a própria vida aos 39 anos.
É bastante provável que nunca
saibamos exatamente o que levou ao suicídio, considerado a última proeza de sua
existência. Apesar disso, sabemos muitos detalhes de sua apaixonada e
tumultuosa vida antes que tomasse esta última decisão fatal que talvez fosse
inevitável.
Desde a Antiguidade,
Cleópatra, a Grande, foi motivo de reflexão para muitas gerações. Quem foi essa
mulher enigmática? Quais habilidades e desígnios permitiram que ela exercesse
influência sobre os homens mais poderosos do seu tempo e alterasse o curso da
História?
Para poder compreender
algumas destas questões e dar resposta a algumas incógnitas precisamos
retroceder a tempos passados e analisar as raízes e o contexto do qual surgiu
essa surpreendente e enigmática soberana.
QUEM ERA E DE ONDE VEIO?
Cleópatra VII, filha de
Ptolomeu Auletes, nasceu no ano de 69
a .C. Em sua árvore genealógica
apareciam importantes governantes, cuja reputação havia sido manchada pelos
crimes que cometeram.
Seus antepassados haviam
praticado os vícios e as perversões mais inimagináveis, que combinavam com seus
consideráveis talentos e paixões, com sua crueldade e com uma sede de poder que
lhes permitiram ostentar a coroa do Egito por três séculos!
Os historiadores não puderam
estabelecer a verdadeira identidade da mãe de Cleópatra. Especulou-se sobre o
fato de que tenha sido a segunda esposa de Ptolomeu XII Auletes, com a qual
este teria casado depois que Cleópatra V deu à luz a Berenice IV e a Cleópatra
VI.
No entanto, nada se sabe
sobre o destino de Cleópatra V, já que ela simplesmente desapareceu da vida
pública. Ao que parece, também os filhos de Auletes, Ptolomeu XIII e Ptolomeu
XIV, nasceram desta esposa desconhecida, e seriam, portanto, irmãos de sangue
de Cleópatra VII. Muito provavelmente, também a irmã mais nova, Arsinoe, era
sua irmã de sangue.
Afirmou-se que Cleópatra VII tinha um porte e
aspecto majestosos (IMAGEM 01), além de um jeito apaixonado e fogoso e uma
grande inteligência.
Através das imagens que aparecem cunhadas em
várias moedas (IMAGEM 02) da época, deduz-se que não possuía uma beleza de
estilo clássico, já que seus traços eram muito acentuados e grandes.
De todo modo, a história descreve-a como uma
mulher consideravelmente atraente fisicamente, talvez devido a seu olhar
penetrante e hipnotizador, a seu domínio da arte da sedução e ao uso perspicaz
que fazia de suas artimanhas de mulher.
Sua grande inteligência, combinada à sua
astúcia e intuição, transformaram-na em uma figura especialmente destacada.
Cleópatra era uma jovem muito culta. Os fortes
antecedentes gregos, incluindo o idioma e a cultura do país nativo de sua
família, tinham sido preservados e transmitidos aos membros da dinastia dos
Ptolomeus, apesar de governarem como egípcios e serem bons conhecedores da
cultura de seu país de adoção.
Cleópatra era poliglota e foi o primeiro membro
da dinastia ptolomaica a aprender o idioma de seus súditos egípcios. Também
estudou literatura e astronomia, e interessava-se até pela medicina, pelas
ciências e pela matemática.
Seu instinto e ambição somados a
extraordinários dotes intelectuais, permitiram que se destacasse entre seu povo.
A BELEZA
NÃO É TUDO
No entanto, que aparência física tinha
Cleópatra? É difícil dizer. Os filmes modernos reservaram o papel de Cleópatra
às atrizes mais belas da ocasião (IMAGEM 03).
Isto
parece corroborar a lenda de que a rainha do Egito era uma mulher
espetacularmente bela, capaz de pôr de joelhos diante dela os homens mais
poderosos de sua época.
Mas,
a suposta beleza de seu físico foi o que deu a Cleópatra todo o poder que teve?
Quando
Otávio tomou o Egito, ordenou que fossem destruídas todas as representações da
ex-rainha e, para todos os fins práticos, sua ordem foi cumprida.
Felizmente,
um cidadão rico de Alexandria conseguiu subornar os funcionários e conservou
uma parte de sua coleção. Assim foram preservadas duas estátuas (que agora
estão num museu da Califórnia), algumas moedas que foram encontradas depois e
um baixo-relevo na parede do templo de Dendera em Qena, que nos dão uma ideia
aproximada da aparência de Cleópatra.
Nele,
a soberana egípcia aparece dando o peito a Cesarion, e representada obviamente
como uma mulher bonita.
As
moedas e as estátuas, no entanto, mostram uma mulher gorducha, com o rosto
austero, dentes maltratados e feições vulgares.
CLEÓPATRA VII – A MAIS
FAMOSA (parte 02)
As duas imagens
sobreviventes, das quais já escrevemos no capítulo anterior, fizeram com que
muitos historiadores afirmassem que a suposta beleza de Cleópatra era uma lenda
sem fundamento e que, na verdade, a rainha egípcia era uma mulher pouco
graciosa, talvez um tanto gorda, e, provavelmente, de não mais de um metro e
meio de altura.
Daí a considerá-la
"feia" bastava apenas um passo, passo que alguns historiadores
britânicos não hesitaram em
dar. Então , se não foi a
aparência falsamente considerada bonita, o que foi que supostamente fez
enlouquecerem de desejo os grandes líderes daquela época?
Em primeiro lugar, é preciso
levar em conta que a beleza é um conceito subjetivo que muda com o tempo.
Está bem documentado que na
época de Cleópatra as mulheres gorduchas eram consideradas mulheres ideais, e
que um rosto era considerado bonito se a cútis era lisa e os olhos, límpidos.
Portanto, talvez seja possível dizer que Cleópatra era atraente.
No entanto, é mais provável,
e mais cortês em relação às mulheres em geral, que a moral da história de
Cleópatra seja que a beleza é algo ilusório. Embora nos textos históricos
raramente fosse mencionada a sua aparência (IMAGEM 04), não se pode
negar que tinha um grande encanto, astúcia e inteligência.
Foram
estes atributos, e talvez seu domínio das estratégias da sedução, o que lhe
permitiu controlar e manipular os homens mais poderosos de sua época. Cleópatra
era perita em assuntos políticos e militares, e tornou-se uma conselheira indispensável
para César e para Marco Antônio.
Imagem 04: Registro de Cleópatra VII que se encontra no Museu
Hermitage, na Rússia. Imagem registrada no site Scala Archives sob código
DA12921 com título "Statue of Cleopatra VII horn of
plenty (51-30 b.C.). Detail.". Créditos da fotografia: DeAgostini
Picture Library/Scala, Florence.
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Além disso, nesses dois casos, assegurou-se de
que a primeira impressão que tivessem dela fosse espetacular e os seduziu com
modos teatrais, após uma longa e ponderada preparação.
Não se tratou de encontros casuais nos quais o
homem caísse de amor à primeira vista, mais sim abordagem meticulosamente
planejada para alcançar os seus objetivos.
Cleópatra sabia exatamente o que queria e como
alcançá-lo. Embora a beleza física não tivesse por que ser um impedimento, o
certo é que para Cleópatra ela não fazia falta.
FECHAM-SE AS CORTINAS PARA
CLEÓPATRA (parte 03)
A lenda popular diz que
Cleópatra morreu pela picada de uma víbora. No entanto, quando analisamos essa
crença vemos que é bastante improvável.
Existe uma víbora
venenosa, Vipera Aspis, que é uma serpente muito agressiva, vive
nas montanhas da Europa e sua picada é responsável por muitas mortes por ano.
No entanto, é uma serpente
lenta que quando morde nem sempre provoca a morte, pois seu veneno demora um
tempo para fazer efeito.
No entanto, talvez a razão
mais importante para não acreditar no que diz a lenda quanto à culpa pela morte
da rainha seja a de que essa não é uma das espécies de serpentes com habitat no
Egito; nem agora e nem no passado.
Imagem
05: Cobra egípcia ou Naja Haje. Teria sido esta espécie a picar a famosa rainha
egípcia Cleópatra, matando-a quase que instantaneamente. Imagem via Wikimedia
Commons pelo link <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:L14cobra.jpg>,
acessado em 20 de abril de 2018 às 22h10m.
Portanto, se Cleópatra se
matou fazendo-se picar por uma serpente, é possível afirmar quase com certeza
que a serpente não era uma víbora.
É provável que o termo
"víbora" tenha sido utilizado ao longo dos séculos como uma espécie
de termo genérico para dizer "serpente". Se presumirmos que a arma
suicida foi algum tipo de serpente, a candidata mais lógica seria a naja
egípcia.
Cleópatra preparou
meticulosamente durante longo tempo o método perfeito para suicidar-se,
desejosa de encontrar um meio que significasse uma morte rápida e relativamente
indolor, uma morte que não a desfigurasse de nenhuma maneira.
A naja egípcia (IMAGEM 05),
que geralmente se alimenta de pequenos roedores, era (e ainda é), uma serpente
muito comum em regiões habitadas do Egito. A picada de naja costuma matar
rapidamente e de um modo razoavelmente benevolente.
A história reúne vários
testemunhos de suicídios de nobres egípcios recorrendo às najas e em algumas
épocas elas foram utilizadas para eliminar prisioneiros políticos condenados à
morte.
A morte por ataque de cobra
era considerada como um modo honrado de morrer e havia quem acreditasse que
concedia a imortalidade.
É bem possível que houvesse
uma naja escondida entre os figos que foram levados a Cleópatra num cesto. Uma
vez em sua posse, a rainha deve ter assustado ou irritado o animal para que a
mordesse.
Não foi encontrado rastro
algum da serpente, exceto algumas marcas na areia de fora do mausoléu, embora o
braço de Cleópatra apresentasse pequenas feridas incisivas.
Não está nada claro, no
entanto, que essa fosse a causa da morte. Outra teoria afirma que as criadas da
rainha tinham um veneno poderoso escondido dentro de alfinetes para o cabelo,
que utilizaram para inocular o veneno. Não se sabe qual o destino das criadas.
CLEÓPATRA VII – A MAIS FAMOSA: “ENCERRAMENTO DA SÉRIE”
Muito
se discute sobre a aparência de Cleopatra, se era bela, feia, branca, negra. E
se era verde, laranja ou tinha sardas fluorescentes pelo corpo? Importa? Antes
de qualquer coisa, é necessário pensar na rainha além da cor. As discussões
atuais giram muito em torno de “Cleópatra negra, Cleópatra branca, Cleópatra no
cinema” e suas realizações como governante acabam por cair em segundo plano.
Inteligente, ela fez ações que eram inimagináveis para mulheres de sua época.
Foi pioneira, aprendeu o idioma da terra governada e, engenhosamente, aliou-se
a homens poderosos.
Como
era fisicamente? Talvez a pergunta fique eternamente sem resposta... Os
vencidos a taxaram como uma mulher feia, baixinha e nariguda. Já as imagens do
Egito apresentam uma mulher diferente. Quem está certo? Se por muitos séculos
os faraós se “embelezavam” nas estátuas e murais, podemos crer que a fonte
egípcia é mais confiável à primeira vista? Ou ficamos com “aquela pulga atrás
da orelha” e acreditamos nos romanos?
A
mulher mais poderosa de uma civilização será um enigma por muitos séculos.
Quiçá milênios. Cléo vai estar na boca do povo, não deixando nunca seu nome e
legados morrerem. Antes de qualquer coisa, vamos apreciar suas representações
cinematográficas, por exemplo, com mais abertura: Por qual motivo o estúdio a
representou nesses moldes, com essas características e essa cor? Elizabeth
Taylor é a Cleópatra VII certa e todas as outras são erradas?
Lyz
é a errada frente a visão histórica? Seu figurino está certo e o cenário
errado? Aconteceu uma salada dinástica no filme com mistura de personagens?
ATENÇÃO! São FILMES! Se quisermos fidelidade a história que assistamos a um
DOCUMENTÁRIO (e se bobear, não tem 100% de fidelidade nem ali). Mas vocês se
perguntam: E quem pensa diferente disso está errado? Não. Ainda vivemos em uma
democracia e cada cidadão é livre. Só sugiro que tenhamos uma mente mais aberta
nesse assunto delicado. Voltemos a Cleópatra.
Seu
legado sobrevive em numerosas obras de arte, tanto antigas quanto modernas. A
historiografia romana e a poesia latina produziram uma visão geralmente
polêmica e negativa da rainha que permeava a literatura medieval e
renascentista. Nas artes visuais, representações antigas de Cleópatra incluem a
cunhagem romana e ptolemaica, estátuas, bustos, relevos, vidros e esculturas de
camafeus, e pinturas.
Foi
tema de muitas obras na arte renascentista e barroca, que incluiu esculturas,
pinturas, poesia, dramas teatrais, como Antônio e Cleópatra, de William Shakespeare, e óperas como Giulio Cesare in Egitto, de Georg Friedrich Händel. Nos tempos modernos, tem aparecido tanto
nas artes aplicadas e belas artes, na sátira burlesca, em produções
cinematográficas e em imagens de marcas para produtos comerciais, tornando-se
ícone da cultura popular da egiptomania.
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